Não é UPA, UPA, cavalinho, não, é
UPA, UPA ,burrinho... Que paga imposto, por sinal o mais caro do mundo. Vamos
conferir como isso funciona. Chegamos, a paciente entra, é maior de idade,
acompanhante não entra. Fico aguardando, ainda bem que tem cadeira pra sentar.
Quanta gente chega! É um atrás do outro. É criança, é adulto. Todos com cara de
quem comeu e não gostou. Cara de febre, cara de dengue. Será mesmo dengue o que
ela tem? Sei não. Quando passamos na calçada do shopping e ela adora, falou-me
que não sentia nada, a não ser a dor nos olhos. Quase a convidei para ver as
modas, mas achei melhor não convidá-la. Nosso objetivo é o9 UPA! Vamos ao UPA e
vamos esperar o parecer do médico. Se ela sair por aquela porta alegre e sem
cara de dengue até me atrevo a convidá-la a passar no shopping, já que estamos
aqui. Aguardemos para ver quantas horas esperaremos. São 13 h e 4 min.
Acabo de lembrar que hoje é feriado.
Coisa mais sem graça um feriado no sábado. Mas vem logo outro na segunda. Há
quem reclame de tanto feriado. Brasil,
país dos feriados. Tem feriado de tudo! Hoje é Tiradentes, segunda é São Jorge.
Oh, São Jorge, fazei desse Brasil um país mais humano! Onde a ganância e o
egoísmo se dissipem dando lugar ao amor e à paz.
Que coisa feia! Hoje estou para tomar
de tudo. Também, quem mandou sentar aqui com lápis e papel se for para
escrever. Que coisa feia! Estas mães que vêm com suas crianças ao médico como
se fossem à praia. Cada roupa... Outras parecem que vão ao baile. É salto alto,
é rasteirinha... Mas afinal, eu vim acompanhar ou tomar conta do que vejo? Acho
que as duas coisas. Fecho os olhos para descansar a vista. O telefone toca. É
ela dizendo para eu ir embora que ela vai demorar. Digo que não e aproveito
para dizê-la que se não estiver com dengue iremos ao shopping, nem que seja só
para ouvir a sua risada, embora num ambiente indevido, sorrir agora não seria
adequado. Todos estão apreensivos. Uns
com febre. Outros com tosse.
Outros que vomitam. Quanta criança! Observo do
recém-nascido aos seis anos em média. Mas há adolescentes, jovens e idosos. Não
há uma idade padrão. É sábado, ainda por cima, feriado e me disseram que são
apenas dois médicos atendendo. E que
esta Unidade é referência de bom atendimento, por esta razão, a grande procura.
Meu Deus, agora senta ao meu lado um
senhorzinho que trouxe a filha de seis anos, mas como conversa. Enquanto a
esposa acompanha a filha, ele conversa sobre tudo. Diz até que não
almoçou. É bombeiro hidráulico. Fala de
Engenharia e Arquitetura, de teoria e prática.
Quanta gente feia, meu Deus!
Já não basta ser pobre, tem de ser feia também?
Que coisa! Pobre, feia e doente! Precisa mais? Falta alguma coisa? A
vejo pelo vidro da porta sorridente. Acho que vamos ao shopping, nem que seja
para comprar o remédio. Vejo a coisa meio esquisita. Não dormi bem à noite.
Estou com a imunidade baixa e já sinto que a barriga está estranha. Não quero
vomitar, nem uma crise de diarreia, mas parece contagioso, duas horas no meio
de tantos vírus e bactérias. Quero sair viva!
Depois dessa, penso que nunca mais
ela deixará de ir ao médico ao primeiro sinal de febre.
Eu não disse? Cá estamos. No shopping!
DIPIRONA? Dengue? Não, Suspeita...
Compramos a dipirona
recomendada pelo médico. E fomos ao lanche... Quase seis horas depois, estamos
em casa.
Dedicado a Ilana, a menina “dengosa”.
Flor das Bravas.
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